agosto 05, 2005

F.M.I.

Mãe, eu quero ficar sozinho... Mãe, não quero pensar mais... Mãe, eu quero morrer mãe.Eu quero desnascer, ir-me embora, sem ter que me ir embora. Mãe, por favor, tudo menos a casa em vez de mim, outro maldito que não sou senão este tempo que decorre entre fugir de me encontrar e de me encontrar fugindo, de quê mãe? Diz, são coisas que se me perguntem? Não pode haver razão para tanto sofrimento. E se inventássemos o mar de volta, e se inventássemos partir, para regressar. Partir e aí nessa viajem ressuscitar da morte às arrecuas que me deste. Partida para ganhar, partida de acordar, abrir os olhos, numa ânsia colectiva de tudo fecundar, terra, mar, mãe... Lembrar como o mar nos ensinava a sonhar alto, lembrar nota a nota o canto das sereias, lembrar o depois do adeus, e o frágil e ingénuo cravo da Rua do Arsenal, lembrar cada lágrima, cada abraço, cada morte, cada traição, partir aqui com a ciência toda do passado, partir, aqui, para ficar...
Pra quem tiver coragem este texto pode ser lido em http://fmi.com.sapo.pt/

8 comentários:

Artista disse...

Este texto está altamente! Fui ao link e me surpreendi como grande parte dele ainda é actual. Agora, quem é esse que o escreveu, e de quem nunca ouvi falar?

Português desiludido disse...

José Mário Branco marcou uma época!Tenho muita música dele de que gosto muito!

Anónimo disse...

"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades"... pena que haja malta (provável/ muito nova) que não tem consciência que foi um dos que ajudou à liberdade; cantou poemas políticos de grande substãncia;

Francis disse...

J.M.B. Antes de músico, um grande homem! Nunca é demais lembrá-lo.

Anónimo disse...

"Deixem-me sozinho, filhos da puta, deixem só um bocadinho, deixem-me só para sempre, tratem da vossa vida que eu trato da minha, pronto, já chega, sossego porra, silêncio porra, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me morrer descansado" - Tive que imprimir os textos. Fiquei impressionada com estas histórias, contadas na 1ª pessoa. Uma lição de história e de vida.

Anónimo disse...

..."e se todo o mundo é composto de mudança, troquemos-lhe as voltas que ainda o dia é uma criança"... Sim, adora essa música castor e muitas outras e sei o que representaram... e sou nova... mas acho que tens razão, pouca gente sabe destas coisas... Também adoro José Afonso...

Menina Marota disse...

José Mário Branco...na 1ª. pessoa. ùnico, como só ele...

Gosto muito do poema, que aqui deixo:

"Há um fogo enorme no jardim da guerra
E os homens semeiam fagulhas na terra
Os homens passeiam co'os pés no carvão
que os Deuses acendem luzindo um tição

Pra apagar o fogo vêm embaixadores
trazendo no peito água e extintores
Extinguem as vidas dos que caiem na rede
e dão água aos mortos que já não têm sede

Ao circo da guerra chegam piromagos
abrem grande a boca quando são bem pagos
soltam labaredas pela boca cariada
fogo que não arde nem queima nem nada

Senhores importantes fazem piqueniques
churrascam o frango no ardor dos despiques
Engolem sangria dos sangues fanados
E enxugam os beiços na pele dos queimados

É guerra de trapos no pulmão que cessa
do óleo cansado que arde depressa
Os homens maciços cavam-se por dentro
e o fogo penetra, vai directo ao centro."

(Poema José Mário Branco)

Um abraço ;)

Anónimo disse...

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