setembro 25, 2005

Charly Garcia, perigoso?


Charly Garcia, é uma das personagens mais polémicos de toda a história do rock, aproveitando a decisão do governo Argentino ao ter proibido a língua inglesa, derrubou o mito de que o rock só poderia ser cantado em inglês.
Grande parte da sua vida têm sido Fugas Malabaristas carregadas de excentricidade e por vezes com a loucura a atingir formas estranhas. Sempre disse e fez tudo aquilo que pensa, a exemplo disso, foram todas as loucuras que cometia em palco destruindo instrumentos, exibindo toda a sua "anatomia", insurgindo-se contra Bruce Springsten num concerto em Buenos Aires, disse-lhe: " Aqui na Argentina, I am the Boss", consta que Bruce ficou furioso e Charly só acalmou depois de Sting o ter massajado.
Grande parte das suas músicas foram objecto de censura, entre as quais “Botas Locas”, em 1975 foi preso com Nito Mestre no Uruguay, por a ter cantado.
Os problemas com o álcool, as drogas e o imprevisto comportamento tanto em palco como em público fazem dele persona non grata. É internado e festeja o regresso com um concerto em Luna Park, surgindo numa ambulância, como que fazendo uma sátira a todo o tempo que passou na clínica. Em 2000 depois de um concerto, atirou-se do 9º andar para dentro de uma piscina, felizmente não sofrendo quaisquer danos físicos, os psicológicos esses, não havia nada que os perturbasse.
Charly sempre se dispôs a ultrapassar os limites, sem pensar no que isso implica.


Botas Locas (alguns excertos)

"Eu formei parte de um exército
Tinha vinte anos e cabelo curto
Mas meu Amigo houve uma confusão
Porque para eles o Louco era eu
É um jogo simples ser Soldado
Eles Sempre insultando, eu sempre calado”
“Pense um momento Sr. General !
Porque eu no seu lugar sentir-me-ia mal
Eu faço parte de um exército louco
Eu faço parte de um exército muito louco
Porque para eles o louco era eu
Porque para eles o louco era eu”
(dás-te conta louco, de repente é assim)

Fugas Vagabundas

setembro 20, 2005

William Blake


O ”Manuscrito de Pickering” foi escrito entre 1800-1803, esteve oculto (vá-se lá saber onde) tendo vindo a publico em 1866, trinta e seis anos após a morte de Blake. Só em 1905 os dez poemas foram publicados na íntegra, numa edição da Poetical Works (Oxford University Press)
Toda a vida de Blake foi uma rebeldia, uma fuga contra a razão, era visto como sendo um lunático que falava com os anjos.


Sobre a falta de reconhecimento do seu trabalho, afirmou:
“ Até Milton e Shakespeare não puderam publicar os seus trabalhos





O Sorriso
Há um Sorriso d’Amor,
E um Sorriso d’Enganar,
E há um entre os Sorrisos
Em que os dois se vão juntar


Há uma Cara de Ódio
E uma Cara de desdém
E há uma entre essas Caras
Que a memória retém

No Fundo do Coração
E no mais fundo da Pele;
E Sorriso houve jamais,
Sorriso algum como aquele,

Que do Berço até à Cova
Só Sorri uma vez assim,
Mas quando ele assim Sorri
Toda a Tristeza tem fim

Leituras Vagabundas




setembro 12, 2005

Rimbaud, o Iluminado

Arthur Rimbaud, foi um fenómeno sobrenatural, com a sua precodidade selvagem e assustadora, entre os 16 e 19 anos escreveu grande parte da sua obra poetica e com ela cai nas profundezas do inferno para alcançar a iluminação, (não sem tirar partido disso) do inferno extraiu palavras amargas...

"Todavia, só na hora da dor pura é que o relógio deixará de tocar! Vou ser arrebatado como uma criança, para brincar no paraíso, esquecido de todas as desgraças. Não que eu creia estar a luz alterada, extenuada a forma, desviado o movimento (...) Bom! Eis que meu espírito quer realmente encarregar-se de todos os desenvolvimentos cruéis que o espírito experimentou desde do fim do Oriente... É o que ele pretende, meu espírito! Meus dois vinténs de razão acabaram! O espírito é autoridade, quer eu esteja no Ocidente. Seria preciso fazê-lo silenciar para concluir como eu gostaria. Eu mandava para o diabo as palmas dos mártires, os raios da arte, o orgulho dos inventores, o ardor dos saqueadores: retornava ao Oriente e à sabedoria primeira e eterna. (...) Chega de palavras. Sepultei os mortos no meu ventre... cairei no vazio... minha vida não é bastante pesada, ela voa e flutua longe, acima da acção, esse precioso centro do mundo".
... e doces

A Maliciosa

Na sala de jantar trigueira, que um odor de vernizes
E frutas perfumava, eu batia-me sem pressas
Com uma travessa já não sei de que petisco
Belga, refastelado na minha cadeira imensa.

Enquanto comia ia ouvindo o relógio -feliz e calado
Num pé-de-vento, abriu-se a porta da cozinha
- E surgiu a criada, desconhecendo porque motivo,
o lenço meio desfeito, maliciosamente penteada

E, enquanto passava o dedo mindinho, todo trémulo,
Pela maçã do rosto, um veludo de pêssego rosa e branco,
Fazia com o lábio infantil um beicinho

E dispunha as travessas diante de mim para ser mais fácil;
- E, de repente, sem mais nada - claro para ter um beijo -,
Muito baixinho: «Toca aqui, apanhei uma pontinha de frio, aqui,

na face.»


Leituras Vagabundas
Foto de:www.d-linker-ebeniste.com/ rimbaud.jpg

setembro 06, 2005

" A Velhice do Padre Eterno"

  • Em Fuga por uma feira de "velharias", dei com esta obra de Guerra Junqueiro, uma Edição da Europa América,(data?) com ilustrações de Leal da Câmara.

    Prefácio à 2ª Edição (excerto)

    “Nunca discuti, nem jamais discutirei com quem quer que seja, valor literário duma obra minha. Um livro atirado ao púbico equivale a um filho atirado à roda. Entrego-o ao destino, abandono-o à sorte. Que seja feliz é o que eu lhe desejo, mas se não o for, também não verterei uma lágrima”
    O Génesis
    “Jeová por alcunha antiga – o Padre Eterno
    Deus muitíssimo padre e muito pouco eterno,
    Teve uma ideia suja, uma ideia infeliz!
    Pôs-se a esgravatar coo dedo no nariz,
    Tirou desse nariz o que um nariz encerra,
    Deitou isso depois cá abaixo, e fez-se a Terra.
    Em seguida tirou da cabeça o chapéu,
    Pô-lo em cima da Terra, e zás, formou o céu.
    Mas o chapéu azul do Padre Omnipotente
    Era um velho penante, um penante indecente,
    Já muito carcomido e muito esburacado.
    Depois o Criador (honra lhe seja feita!)
    Achou a sua obra uma obra imperfeita,
    Mundo sarrafaçal, globo de fancaria,
    Que nem um aprendiz de Deus assinaria,
    E furioso escarrou no mundo sublunar,
    E a saliva ao cair na Terra, fez o mar.”
    (e continuaaaaa)
Nas suas notas final Guerra Junqueiro afirma:"
Em seguida à Morte de D.João, comecei a escrever um novo poema -A Morte do Padre Eterno, cujo plano completo, até aos mínimos detalhes, estava de há muito elaborado no meu espírito. Mas em torno desta ideia principal, germinou um grande número de ideias e acessórios, donde nasceu um livro novo. A Velhice do Padre Eterno, colecção de 50 poemas, que são 50 balas, que partindo de diversas direcções, vão todas bater no mesmo alvo".

Todo o livro pode ser lido on-line em
http://bnd.bn.pt/, editado em 1885, pela Livraria Minerva – Porto
(não aconselhável a Vagabundos de mentes opacas)

setembro 01, 2005

Syd Barret - "Crazy Diamond"


Decorre o ano de 1965 quando Syd Barret com os amigos Roger Waters, Rick Wright e Nick Mason formam os Pink Floyd Sound, mais tarde Pink Floyd, baseado em 2 cantores de Blues, uma das influências de Syd. Já nessa altura Syd era grande apreciador dos alucinogénicos, nomeadamente o LSD e que mudaria sua vida para sempre sendo a principal responsável por todos os seus devaneios e loucura, mas também a responsável pelo desabrochar de todo o seu génio criativo. Foi de sua autoria toda a composição do 1º álbum dos Pink Floyd “ The Pipper At The Gates Of Down”. A fronteira entre a genialidade e a loucura estava cada vez mais próxima, começaram a surgir os problemas mentais agravando-se cada vez mais devido ao consumo exacerbado de LSD.Syd começa a ficar ausente do resto do grupo, durante a 1ª Tornee nos EUA alguns concertos são um fracasso. Syd acaba por abandonar os Pink Floyd.Em 1973 Syd retira-se da vida publica, depois de ter tentado uma carreira a solo. Com “Whish You Were Here”, os Pink Floyd prestam-lhe homenagem, a faixa “ Shine on You Crazy Diamond” é o exemplo disso.

Lembras-te de quando eras jovem
Tu brilhavas como o sol
Continua a brilhar, louco diamante
Agora há um olhar no teu rosto
Como buracos negros no céu
Continua a brilhar, louco diamante
Foste apanhado no fogo cruzado
Entre a infância e o estrela to
Arrastado pela brisa de aço
Vamos, alvo de risos distantes
Vamos, estranho, lenda,
Mártir, e brilha!
Tu procuraste alcançar o segredo cedo demais
Tu quiseste o impossível
Continua a brilhar, louco diamante
Ameaçado pelas sombras à noite
E exposto à luz
Continua a brilhar, louco diamante
Bem, tu desgastas-te as tuas boas-vindas
Com precisão a esmo
Cavalgas-te a brisa de aço
Vamos, festeiro, visionário
Vamos, pintor, tocador de flauta,prisioneiro,
brilha!

Ao contrário do que muitos julgam Syd Barret está vivo, vive isolado, com graves problemas de saúde, mas o Diamante Louco continua a Brilhar.

Tradução da letra e texto: Vagabundo