Arthur Rimbaud, foi um fenómeno sobrenatural, com a sua precodidade selvagem e assustadora, entre os 16 e 19 anos escreveu grande parte da sua obra poetica e com ela cai nas profundezas do inferno para alcançar a iluminação, (não sem tirar partido disso) do inferno extraiu palavras amargas...
"Todavia, só na hora da dor pura é que o relógio deixará de tocar! Vou ser arrebatado como uma criança, para brincar no paraíso, esquecido de todas as desgraças. Não que eu creia estar a luz alterada, extenuada a forma, desviado o movimento (...) Bom! Eis que meu espírito quer realmente encarregar-se de todos os desenvolvimentos cruéis que o espírito experimentou desde do fim do Oriente... É o que ele pretende, meu espírito! Meus dois vinténs de razão acabaram! O espírito é autoridade, quer eu esteja no Ocidente. Seria preciso fazê-lo silenciar para concluir como eu gostaria. Eu mandava para o diabo as palmas dos mártires, os raios da arte, o orgulho dos inventores, o ardor dos saqueadores: retornava ao Oriente e à sabedoria primeira e eterna. (...) Chega de palavras. Sepultei os mortos no meu ventre... cairei no vazio... minha vida não é bastante pesada, ela voa e flutua longe, acima da acção, esse precioso centro do mundo".
... e doces
A Maliciosa
Na sala de jantar trigueira, que um odor de vernizes
E frutas perfumava, eu batia-me sem pressas
Com uma travessa já não sei de que petisco
Belga, refastelado na minha cadeira imensa.
Enquanto comia ia ouvindo o relógio -feliz e calado
Num pé-de-vento, abriu-se a porta da cozinha
- E surgiu a criada, desconhecendo porque motivo,
o lenço meio desfeito, maliciosamente penteada
E, enquanto passava o dedo mindinho, todo trémulo,
Pela maçã do rosto, um veludo de pêssego rosa e branco,
Fazia com o lábio infantil um beicinho
E dispunha as travessas diante de mim para ser mais fácil;
- E, de repente, sem mais nada - claro para ter um beijo -,
Muito baixinho: «Toca aqui, apanhei uma pontinha de frio, aqui,
na face.»
Leituras Vagabundas
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