novembro 27, 2005

"John Barleycorn"


Nas “Memórias de um Bebedor” (no original John Barleycorn) Jack London defende-se de John Barleycorn e, com uma escrita sublime e arrojada revela algumas peripécias da sua vida, não que elas não fossem do domínio público mas quase com certeza afirmo que Jack as escreveu para o despertar de consciências de Vagabundos futuros. Não sendo sua intenção fazer deste livro uma Auto Biografia. London leva para o esclarecimento que a companhia de Jack Barleycorn foi o ponto de partida para a sua auto-destruição.
A dada altura diz" E contudo o que eu conto sucedeu-me a mim próprio, em carne e osso.Trata-se de uma experiência vivida e não de uma especulação teórica.É na minha opinião, um exemplo impressionante do extrordinário poder de John Barleycorn[...] (1)

Capitulo I (1)
Apresento John Barleycorn

John Barleycorn, de quem eu era o intérprete, ia revelar os seus mais íntimos segredos num acesso de transbordante franqueza".

“Existem, geralmente falando, dois tipos de bêbados um é que nós todos conhecemos, estúpido, sem imaginação, cujo cérebro está ceio de caprichosas manias e se estatela frequentemente na valeta […] O outro tipo de bêbedo tem imaginação e visões […] Não é o seu corpo que está embriagado mas o cérebro […] É a hora em que chega John Barleycorn e em que ele vai empregar toda a sua sagacidade para exercer o seu poder.”

Tudo isto não convém de modo algum a homem, criado para viver, amar e ser amado. Contudo o suicídio, rápido ou lento […] tal é o preço que cobra John Barleycorn, nenhum dos seus amigos escapa ao cumprimento deste regulamento equitativo”

Jack London foi um Vagabundo em Fuga pelo Mundo, mas nunca, absolutamente nunca, nunca teve um momento de tranquilidade” (1)
Morre em 1916, suicidou-se na companhia de John Barleycorn.

Perguntar-se-ão, afinal quem é John Barleycorn?

(1) "Memórias de um Bebedor” uma edição da Editorial Inquérito, julgo ser anterior a 1943, está estratégicamente posicionado numa estante da BV. É, e sempre será um livro de eleição.
Tudo bem eu confesso, já foi devorado várias vezes.

As Fugas do Vagabundo

novembro 20, 2005

As Flores do Mal

Charles Baudelaire e os seus procedimentos muito pouco convencionais - para a época - fizeram emergir das profundezas os "Poetas Malditos", foram seus seguidores, Rimbaud, Verlaine, Mallarmé, Lautréamon e não sei quantos mais!
São celebres as "reuniões" de vários Vagabundos em 1845 no Hotel Pimadon em Paris, no "Clube Dés Hashishins", as experiências de Baudelaire nestas "reuniões" serão mais tarde relatas em "Os Paraisos Artificiais", emoções momentâneas, Fugas à mediocridade da existência, momentos de raros e lúcidos "sabores", mesmo que o despertar seja devastador.
Tendo dilacerado a sua pequena fortuna, Baudelaire que era um adepto da vida bóemia e libertina de Paris é submetido a julgamento familiar, onde lhe foi nomeado um tutor para controlar as suas Fugas Parisienses.
Por esta altura já Baudelaire tinha dado inicio à sua obra mais controversa as "Flores do Mal". Logo após a sua publicação em 1857, e depois de ser selvaticamente atacado pelo " Le Fígaro", todos os exemplares são confiscados, sendo que alguns a pedido de Baudelaire, foram escondidos pelo seu editor. Intitulado como obsceno e um ultraje à moral publica a sua publicação só é autorizada com a expurgação de seis poemas, o que veio a acontecer. Apenas em 1911, vieram a ser editados todos os 52 poemas do original.
Charles Baudelaire, morre em 1867 vitima de paralisia.
"É preciso estar sempre embriagado. Para não sentirem o fardo incrível do tempo, que verga e inclina para a terra, é preciso que se é sem descanso. Com quê? Com vinho, poesia, ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se."

As Flores do Mal "Metamorfoses do Vampiro"
"Da mulher, no entanto, com a sua boca de morango,
Contorcendo-se como uma serpente sobre brasas
Seus seios excitados no ferro do seu espartilho,
Corria um fio com odor acre a sexo feminino:
«Repara como meus lábios estão hímidos. Sei levar
Um homem, no fundo de um leito, ao mais antigo desvario."
"As Flores do Mal", edição da Relógio DÁgua, faz parte da BV e sem expurgações!!
Fugas do Vagabundo

novembro 13, 2005

O Universo Zappianno

Antes do lançamento de "Absolutely Free" em 1967 Zappa assiste á recusa da MGM em publicar as letras e o «livrinho de instruções". Aqui Zappa intensifica a sua luta contra a fachada american way of life.
Zappa pôs nú as atrocidades no Vietnam; a violência racial, fome nas ruas, a violência religiosa, os compadrios mal cheirosos entre a politicos e religião, o sexo que para a american way of life era o mesmo que defecar pelo cérebro... e mais não digo!
«Durante um espectáculo no Garrick, Zappa descobre na assistência dois Fuzileiros e entrega-lhes uma boneca insufllável diz-lhes que é um bebé Vietnamita, pede que exemplifiquem o que lhe fariam caso estivessem no Vietname – furiosamente reduziram a boneca a bocados. A todo este tipo de actuações Zappa chama-lhes Atrocidades, da qual a mais famosa é a da girafa que surpreende a plateia com inesperadas e longas ejaculações».Com natas, é claro!

Após as censuras em “We’re Only In It For The Money”, Zappa responde de duas maneiras:
1- « não só não tem sentido retirarem isso como me foderam a peça de musica […] tiraram agudos e meteram graves para abafar as palavras»
2- Funda a Bizarre Productions, e inicia o processo de trituração aos inquisidores. Inclui uma passagem da Const.Americana em todos os seus discos.

Na impossibilidade de fazer referência a todo o universo Zappiano, viajo até 1985 com “Frank Zappa Meets The Mother Of Prevention”, onde o caminho contra a devassidão da american way of life, faz com que o que juiz «inquisidor» Padre Fletcher, Tipper Gore, (mulher do senador Albert Goore), Susan Baker (mulher do sec.est. James Baker) e com a Mother Of Proteccion Nancy Regan vomitem um documento, em que entre muitos encontram-se: Elton Jonh, «um cantor que promove drogas, relações lésbicas, prostituição e suicídio», Jimi Hendrix «um deus que morreu com o seu próprio vómito», Janis Joplin «uma conhecida lésbica, que quando olhou para o espelho se suicidou porque não gostou do que viu», Jethro Tull, por insinuarem que «no principio o homem criou deus».
Foi criada uma comissão no senado, com o fim de levar ao extermínio frases e atitudes em musica e espectáculos. As mulheres do Big Brother não contavam que a testemunha principal para travar os seus intentos fosse FRANK ZAPPA: que antes que qualquer lei fosse aprovada, volta a incluir uma nova passagem da Const.Americana em " Frank Zappa Meets The Mother Of Prevention", provocadora no mínimo!
O Universo Zapianno atinge a Orquesta Sinfónica de Londres que toca várias peças suas; o memorial em Vilnius (ucrânia);O planeta 3834(nome inicial) descoberto em 1980 que com o apoio de Vaclav Havel (presidente checo) e de todos os Zapiannos recebe o seu nome ZappaFrank .QUE TODOS OS ZAPPIANOS HONREM O SEU LEGADO.
Frank Vincent Zappa, morre em 4 de Dezembro de 1993, cumpriu!!!DESAFIOU COMO POUCOS O FIZERAM a american way of life.
As fontes para esta Fuga vieram da B.V., uma Edição da Assirio & Alvim - 1985 "Antologia Poética de Frank Zappa" de António Filipe Marques, bem como uma Edição de Fora do Texto - 1988 "Frank Zappa - A Grande Mãe" de Cesár Figueiredo, bem como da D.V.
A BV e a DV aceitam raridades de Zappa, mas não peçam muitos "eurozes".
Vagabundo

novembro 06, 2005

A Questão da Fazenda

Junho de 1882:
«Veja-se como em cada legislatura se propõe e se discute uma das poucas questões graves de que o parlamento ainda se ocupa. Referimo-nos á coisa a que, no calão official em que tem degenerado a lingua patria, se chama - a questão da fazenda

«Reunidas as camaras e aberto perante ellas o Orçamento do Estado, começa-se invariavelmente por constatar, n'um tremolo elegiaco de symphonia funebre, que continua a existir o deficit. Cada um dos tres governos a quem a corôa alternadamente adjudica a mamadeira do systema encarrega-se de explicar aos tachigraphos essa occorrencia-aliás desagradavel, cumpre dizel-o - mas de que elle, governo em exercicio, não tem a culpa. A responsabilidade cabe ao governo transacto, bem conhecido pelos seus esbanjamentos e pela sua incuria.»

«Tal é o conceito formidavel em que cada um dos referidos tres governos tem os outros dois!»

«[...] o deficit tem dois sacos, um para deante outro para traz, ambos destinados a receber o vacuo. N'um dos sacos mette-se a divida fluctuante, no outro mette-se a divida consolidada. De quando em quando ha um relampago de jubilo, porque parece por um momento que o alforge do deficit está vasio, isto é, que está sem vacuo dentro: é a divida, que se achava em estado de fluctuação no saco da frente, que passou no estado de consolidação para o saco de traz.»
«Pela parte que lhe respeita o Paiz espera. O quê? O momento em que pela boa razão de não haver mais coisa que se collecte, porque estará, collectado tudo, deixe de haver quem empreste por não haver mais quem pague.»

In "As Farpas". Crónica mensal da política, das letras e do costume.
Algumas edições da revista, estão disponiveis no Projecto Gutenberg em
http:// www.gutenberg.net/.

n.V. - Em 1871, Eça de Queiroz e Ramallho Ortigão começam a Farpear toda a sociedade da época, nada nem ninguem escapou á corrosão das suas críticas. Saliento ainda nesta edição, as Farpas que espetam no Marquês de Pombal,«Addusem-se razões e testemunhos [...] é um individuo secundário na classe dos estadistas».
Cento e vinte e três anos após Eça e Ramalho, terem enfiado estas Farpas aos touros da epóca, constacto apenas a mudança dos touros.

Fugas do Vagabundo