novembro 06, 2005

A Questão da Fazenda

Junho de 1882:
«Veja-se como em cada legislatura se propõe e se discute uma das poucas questões graves de que o parlamento ainda se ocupa. Referimo-nos á coisa a que, no calão official em que tem degenerado a lingua patria, se chama - a questão da fazenda

«Reunidas as camaras e aberto perante ellas o Orçamento do Estado, começa-se invariavelmente por constatar, n'um tremolo elegiaco de symphonia funebre, que continua a existir o deficit. Cada um dos tres governos a quem a corôa alternadamente adjudica a mamadeira do systema encarrega-se de explicar aos tachigraphos essa occorrencia-aliás desagradavel, cumpre dizel-o - mas de que elle, governo em exercicio, não tem a culpa. A responsabilidade cabe ao governo transacto, bem conhecido pelos seus esbanjamentos e pela sua incuria.»

«Tal é o conceito formidavel em que cada um dos referidos tres governos tem os outros dois!»

«[...] o deficit tem dois sacos, um para deante outro para traz, ambos destinados a receber o vacuo. N'um dos sacos mette-se a divida fluctuante, no outro mette-se a divida consolidada. De quando em quando ha um relampago de jubilo, porque parece por um momento que o alforge do deficit está vasio, isto é, que está sem vacuo dentro: é a divida, que se achava em estado de fluctuação no saco da frente, que passou no estado de consolidação para o saco de traz.»
«Pela parte que lhe respeita o Paiz espera. O quê? O momento em que pela boa razão de não haver mais coisa que se collecte, porque estará, collectado tudo, deixe de haver quem empreste por não haver mais quem pague.»

In "As Farpas". Crónica mensal da política, das letras e do costume.
Algumas edições da revista, estão disponiveis no Projecto Gutenberg em
http:// www.gutenberg.net/.

n.V. - Em 1871, Eça de Queiroz e Ramallho Ortigão começam a Farpear toda a sociedade da época, nada nem ninguem escapou á corrosão das suas críticas. Saliento ainda nesta edição, as Farpas que espetam no Marquês de Pombal,«Addusem-se razões e testemunhos [...] é um individuo secundário na classe dos estadistas».
Cento e vinte e três anos após Eça e Ramalho, terem enfiado estas Farpas aos touros da epóca, constacto apenas a mudança dos touros.

Fugas do Vagabundo

56 comentários:

wind disse...

Perfeitamente actual, como é normal de Eça. Beijos

Micas disse...

As "Farpas" estão sem dúvida actuais, parece que foram escritas em premonição.
Beijos e boa semana

Naked Lunch disse...

Mais vale mesmo acabar com as touradas...

Anónimo disse...

Cada vez mais actual...
Um abraço e boa semana :)

Que Bem Cheira A Maresia disse...

mais actual não podia ser :)

Boa semana!

Beijokas da revoltosa

Carla disse...

ah pois é...
Jinhos e boa semana

susana disse...

impressionante....


o k aprendo lendo estes posts...

Francis disse...

1882? Tens a certeza?
Este Poste é genial, amigo.
Parece que esta história do O.E. já faz parte a cultura portuguesa :-)
Um abraço.

Anónimo disse...

Prontos VGbundo, mai nada...
Jinhos nino, eu aqui "baixo as orelhitas e...

Anónimo disse...

Um texto que no seu conteudo não deixa de ser actual. Beijinhos.

Su disse...

o eça é sempre actual
gostei de ler
jocas maradas sem farpas;)

Anónimo disse...

helloa:)
vim deixar-te um jinhu e desejar-te uma boa semana***+++

Mocho Falante disse...

Pois é...o senhor tinha razão e muita, na verdade o que mudou foram as moscas porque a trampa é a mesma

Abraços

mfc disse...

E serão Ramalho e Eça actuais, ou é o país absolutamente parado no tempo?

vero disse...

Sem dúvida actual... a estagnação a olhos vistos!!!
Beijinhos***
:)

Fragmentos Betty Martins disse...

Tens toda a razão naquilo que dizes e muito bem - só os toiros é que mudaram mas casta é a mesma "Rasca" que me perdoem os bichos porque o toiro é um animal nobre digno de todo o respeito.

Beijinhos

Anónimo disse...

Imaginação minha ou há semelhanças com o pesente?...

Bjks

Anónimo disse...

Eça e Ramalho uma dupla explêndida,sem dúvida apesar dos aninhos passados as suas escritas estão bastante actuais.Afinal no que é evoluímos e em que sentido?
Parabéns pelo teu trabalho.
Beijo grande.
Daisy.

"Sonhos Sonhados" e "Os Filmes da Minha Vida!" disse...

Vagabundo

regressei!
óptimo texto!
sempre actualizado...

jinhux létinha.

peciscas disse...

Esses homens sabiam como ultrapassar o próprio tempo.

Mas tudo isso vai mudar!Hoje é um dia grande no Peciscas.
Divulguei o meu manifesto eleitoral!

Luis Enrique disse...

Quando se trata da fazenda o que muda é o "quantidade" não o "fundo". Gostei de ler, é muito atual.

Leonor disse...

ola vagabundo
para responder ao teu ultimo comentario
adoro crosby stills nash and young. que grupo meu deus.

abraço da leonor

isabel mendes ferreira disse...

olá Vagabundo por aqui fiquei vadiando ao sabor deste saber ler com farpas....boa noite.

armando s. sousa disse...

Comprei uma recente edição das Farpas. É realmente impressionante como Eça e Ortigão conheciam tão bem o povo e o país em que viviam.
Um abraço vagabundo

GNM disse...

Tens muita razão! É incrivel - e preocupante - como os romances do Eça se mantem tão actuais.
Todas aquelas personagens tipo que ele criou, encontram seguidores nos nossos dias...

C'est la vie...

Fica bem!

isabel mendes ferreira disse...

bom dia vaga(bundo?)....

Mikas disse...

Estes senhores sabiam muito bem do que estavam a falar, adivinhavam o futuro que agora nós vivemos, há quase 2 séculos atrás!

TR disse...

É impressionante a actualidade do texto e é ainda mais impressionante que os temas ainda seja exactamente os mesmos....

Muito bom!!
bj

TR

Isabel Filipe disse...

um texto 5 estrelas...

registo esta parte...

"«Pela parte que lhe respeita o Paiz espera. O quê? O momento em que pela boa razão de não haver mais coisa que se collecte, porque estará, collectado tudo, deixe de haver quem empreste por não haver mais quem pague.» "

bjs

Anónimo disse...

A história repete-se e irá se repetir sempre, há um ditado parecido com este que é mais ou menos assim: "pior fará quem mais tarde virá" não é bem assim , mas os proverbios às vezes têm a sua sabedoria popular bem adaptada a todas as épocas tal como as criticas desses dois mestres da nossa literatura, Eça de Queiroz e Ramallho Ortigão.
Mais uma vez o teu post está muito bem conseguido. Quem sabe sabe!
Um beijinho vagabundo da minha ria.

Dinamene disse...

Por aqui me vou ficando e lendo, e lendo, saboreando as suas várias «farpas»...
Abraço

butterfly disse...

Venho agradecer a sua visita ao meu cantinho e dizer que é sempre bem-vindo!
Achei o seu blog realmente muito interessante,voltarei mais vezes!
Beijinhos

merdinhas disse...

Às Farpas!

Carlos Gil disse...

nunca na minha vida tinha feito uma coisa igual à que vou agora fazer: subscrever 'merdinhas'. Às Farpas! às farpas!

Maria disse...

Há quem diga isso de outra maneira... mudam os nomes mas a m... continua!
Muito bem lembrado. As Farpas é de leitura muito actual e obrigatória.
Beijinhos

Cristina disse...

farpas, há-as em todas as épocas e sempre oportunas:)

beijinhos

Anónimo disse...

Ops...quase que dava com o nariz na porta; Pois eu acho que Ortigão e Eça sabiam traduzir e analisar melhor os factos da sua época do que muitos jornalistas actuais com canudo em áreas específicas. Talvez seja por isso que os seus textos pareçam tão actuais; É por isso que, em muitos encontros, colóquios e convenções ligadas ao jornalismo, apareça quase sempre Eça a marcar, com a sua escrita, o jornalismo. Bicadinho e agasalha-te. Não temos chuva mas parece que veio o frio.

Anónimo disse...

Arre...outra vez "anónimo"??????? Já sei, tenho o H5N1 e o teu blog está preparado para o despistar. Chuif...volto a ser desprezada, é? PIU (Mocho) P.S. - Parece que agora vai dar...1, ,2, 3 cá vai...

Anónimo disse...

... e deu! PIU.

Canis Lupus Horribilis disse...

Obrigado pela tua adição ao mapa joaoscotex!
Prepara-te vai haver Edição d' Natal do Blogalgarve!
Abraço.

Que Bem Cheira A Maresia disse...

passei para te dar um alô e deixar-te um beijo :)

mar revolto

Anónimo disse...

Espectacular esta senhora.Gosto muito.
Beijo grande
Daisy

Anónimo disse...

Estou a referir-me a música claro.
Daisy.

Anónimo disse...

:) isto aqui é um blog de peso =)
os vagabundos reunem-se todos cá ... e eu... :P

Anónimo disse...

Cadê você? Você me foi fazer uma visitinha e de tão corado não pôde me comentar, foi? :)))Bom final de semana.Beijinho "vágábundo", viu?!

Anónimo disse...

Atão na tinhas arreparado? Vá mais um bêjo.

Anónimo disse...

Muito bem falado...ou melhor escrito...

Beijokinhas,
Fica bem

Ass:www.barmaid.blogs.sapo.pt

Vagabundo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Maria Carvalho disse...

Não tenho passado por aqui. Vim hoje para te dar um beijinho, e bom fim de semana para ti

Anónimo disse...

Ao fim de 123 anos e a conversa continua a ser a mesmíssima... acho até que isto é uma espécie de Cartilha Maternal, só que para políticos... Falta-nos é um Ramão Ortigalho... ehe,ehe,ehe...

lique disse...

Tal e qual, caramba! Agora só deveria dizer-se "dois governos" porque na verdade a alternância começa a ser mesmo só entre dois. Tirando isso... seria um extraordinária crítica à situação actual. :)
Beijos

Que Bem Cheira A Maresia disse...

Uauuuu e já temos música e imagem:)

Tem um bom começo de semana.

Jokas da Lina

Anónimo disse...

Nesta indignante estagnação o que assusta não é tanto Eça e Ramalho estarem actuais mas sim entender que nos dias que correm, como eles não há ninguém capaz de entender e tão bem criticar esta nossa triste sociedade.

Texto muito bem escolhido!!!

RD disse...

hehehe. é que é mesmo! já li muitos textos deles e vou-te dizer, estão muito mais à frente.
outros interessantes também são os da geração de 70 e os da nova renascença.
uma beijoca pa ti amiguinho.
rosa

merdinhas disse...

…) retratos muito mais vivos, muito mais parecidos com o original do que as próprias fotografias das personagens que representam, desenhou-os êle de um só jacto na pedra litográfica ou no papel autógrafo, entre a meia-noite e as cinco horas da madrugada, em pé à banca, sob a luz crua e mordente do gás, sempre à última hora, febricitante de pressa, escorrendo suor, com a testa e o nariz manchado de prêto pelas dedadas de craião, fumando àvidamente cigarretes, falando sempre, cantando, assobiando ou deitando complacentemente a língua de fora às figuras (…)"

Ramalho Ortigão (sobre Rafael Bordalo Pinheiro), As Farpas, Abril de 1882
E já agora,
clique aqui

Vagabundo disse...

Obrigado pela dica Mérdinhas!

Abraço Vagabundo